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AÇÃO: Valorização de Plantas Alimentícias do Pantanal e Cerrado

OBJETIVO: Conservação da Biodiversidade, Alimentos e Cultura em Mato Grosso do Sul

ATIVIDADE (AÇÃO): Metodologia científica no ensino fundamental rural: o caso cumbaru

JUSTIFICATIVA

 Muitos dos estudantes ao chegarem à universidade apresentam dificuldades relacionadas à realização de pesquisa científica, que pode ser trabalhada quando estes estudantes ainda estão na educação básica (Faustino et al. 2013). O interesse do aluno em trabalhar com a pesquisa científica implica em novas formas de pensar e de aprender sobre o conhecimento. Além disso, o acesso à ciência e de como o método científico é aprendido e construído no espaço escolar lhe proporciona saberes importantes para sua formação (Santiago et al. 2016).   De modo geral, os professores de escolas privadas e públicas, em especial as rurais, têm pouca experiência no uso do método científico na escola, de modo que as aulas se transformam em exercício enfadonho de transmissão de conceitos e procedimentos de pesquisa longe de serem abstraídos da prática. A dificuldade ainda é maior quando o ensino é dissociado da pesquisa, não envolvendo professores e alunos no desejo de conhecer, criar, refletir, compartilhar, produzir e avaliar resultados numa efetiva interação com o mundo que os cerca (Santiago et al. 2016). Desta forma, a capacitação de professores no uso do método científico para que possam orientar trabalhos de pesquisa é desejável, imprescindível e urgente.

 Iniciou-se em 2016 parceria com a Escola Municipal Noé Nogueira Pólo (EPNN) em projeto temático inserido no “Programa Valorização de Plantas Alimentícias do Pantanal e Cerrado”. A EPNN fica localizada no Assentamento Conceição, Zona Rural do município Nioaque, localizado a aproximadamente 181 quilômetros de Campo Grande, Mato Grosso do Sul (MS). A EPNN atende principalmente alunos do Ensino Fundamental que moram nos Assentamentos do município (e.g. Andalucia), onde a maioria tem pais e avós produtores rurais e comerciantes. No primeiro ano do projeto desenvolvemos com os alunos da escola oficinas sobre a conservação de polinizadores (2016). Posteriormente, buscamos os professores para estudarmos a fenologia e a polinização do cumbaru (Dipteryx alata – Leguminosae, Papilionoideae) visando entender as causas da queda da produção de frutos/sementes de cumbaru dos Assentamentos de Nioaque nos últimos anos, conforme relato dos moradores. A semente do cumbaru é comercializada e constitui importante fonte de renda para as famílias dos assentados da região. Pensamos que os alunos poderiam, orientados pelos professores da Noé Nogueira, coletar os dados e posteriormente analisá-los, constituindo oportunidade de contato com o método científico e a prática do conceito da ciência cidadã (Schmiedel et al. 2016 e referências). Primeiramente ministramos capacitação aos professores sobre como coletar (março/2017) e organizar o banco de dados fenológico reprodutivo (floração, frutificação) do cumbaru (agosto/2017). Desta forma, desde maio/2017 alguns professores da Escola orientam um grupo de alunos a coletar mensalmente dados sobre a produção de botões, flores, frutos imaturos e maduros do cumbaru em 30 plantas marcadas nos Assentamentos.

 Entretanto, verificamos a necessidade de trabalhar princípios e procedimentos da metodologia científica com professores e alunos, inicialmente a partir dos dados fenológicos coletados e partindo posteriormente para estudo dos visitantes florais (polinizadores, não polinizadores) do cumbaru. O objetivo é despertar nos jovens da escola interesse pela pesquisa com plantas nativas do Cerrado e que são utilizadas nos Assentamentos onde vivem, bem como que os mesmos passem a valorizar tais recursos nativos. Acreditamos que este projeto possa também contribuir, a médio e longo prazo, com a fixação do jovem no campo pelo envolvimento que terá com a biodiversidade local. Em conversa com líderes dos Assentamentos verificamos que há grande evasão dos jovens, que vão para a “cidade grande” em busca de oportunidades que não encontram na zona rural, em parte por que desconhecem o enorme potencial de onde vivem.

 

MUNICÍPIO/COMUNIDADE: Escola Municipal Noé Nogueira Pólo (EPNN)

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Protocolo Fenológico:

Valorização de Plantas Alimentícias do Pantanal e Cerrado - 2016 2017

 

Projeto temático 5: Protocolo fenológico para as matrizes do Assentamento Andalúcia utilizadas na coleta de sementes de cumbaru (Dipteryx alata Vog.)

Objetivo específico: Criar (com a participação dos moradores) e testar protocolo fenológico para as matrizes do Assentamento utilizadas na coleta de sementes de cumbaru com fins comerciais;

Procedimentos: Treinar extensionistas para trabalhar em comunidades locais com o tema "Conservação de polinizadores"; sensibilizar os participantes do projeto, através de oficinas, sobre as boas práticas para manutenção e conservação dos polinizadores nativos na área de produção/colheita dos frutos/sementes do cumbaru.

Resultados esperados: Aumentar a produção sementes de cumbaru e da renda dos moradores do Assentamento Andalúcia e subsidiar manejo e conservação da espécie.

 

ATIVIDADE

Dipteryx alata (Leguminosae, Papilionoideae), o cumbaru: uso de dados fenológicos e reprodutivos para o manejo desta espécie em áres de extrativismo do Assentamento Andalucia, Nioaque, Mato Grosso do Sul

 

 Em Mato Grosso do Sul (MS), assim como em outros estados brasileiros, as comunidades que fazem parte do Cerrado encontram-se ameaçadas e as espécies nativas importantes comercial e/ou ecologicamente, estão desaparecendo em função da ocupação desordenada e da exploração irracional dos recursos naturais. O uso racional de espécies vegetais nativas pode ser uma alternativa econômica para o aproveitamento sustentado do Cerrado e, por extensão, para a conservação da biodiversidade deste bioma. No Assentamento Andalucia (A.A.), em Nioaque, MS, os moradores coletam sementes do baru ou cumbaru (Dipteryx alata Vogel, Leguminosae, Papilionoideae), espécie nativa de vegetação de Cerrado. As sementes são beneficiadas e comercializadas “in natura”, torrada ou sob a forma de farinha gerando renda para os moradores da comunidade (Candil et al. 2007). No Brasil, uma tonelada de sementes não beneficiadas de cumbaru valia aproximadamente 386 mil dólares (IPEF 2004), sendo muito valorizada no mercado consumidor externo.

 Com o intuito de fornecer subsídios para otimizar a coleta e a produção de frutos e sementes de D. alata, bem como para a conservação e o manejo de seus polinizadores em áreas naturais, Oliveira & Sigrist (2008) estudaram a fenologia e biologia reprodutiva desta espécie em vegetação de cerrado, MS. Neste estudo, as autoras verificaram que D. alata apresenta variação na intensidade de floração e conseqüentemente de frutificação, tornando diversa e instável a produção de frutos e sementes entre anos. Oliveira & Sigrist (2008) recomendam o estudo da fenologia reprodutiva de matrizes utilizadas na coleta de sementes com fins comerciais. Além disso, por ser auto-incompatível, a espécie necessita de polinizadores que promovam o fluxo de pólen entre plantas, como a abelha solitária Xylocopa suspecta. Desta forma, a produção de sementes resulta da manutenção dos polinizadores efetivos (abelhas solitárias), cuja sobrevivência depende de fontes satisfatórias de recursos, bem como de locais e materiais adequados para nidificação. Abelhas Apis mellifera não são bons polinizadores do cumbaru, pois geralmente não realizam movimento entre plantas e em percentual elevado das visitas pilham néctar. Com base nestes dados, Oliveira & Sigrist (2008) recomendam que nas áreas de produção deve-se evitar o estabelecimento de colônias desta abelha, que compete por néctar com os polinizadores e abelhas nativas, uma vez que possui eficiente estratégia de forrageamento, bem como colônias constituídas por elevado número de indivíduos.

 Considerando o exposto acima, neste projeto objetivamos colocar em prática as recomendações sugeridas com base dos dados científicos publicados por Oliveira & Sigrist (2008), visando: (1) o aumento da produção sementes, com conseqüente aumento da renda dos moradores do A.A.; (2) subsidiar manejo e conservação da espécie D. alata. Para tanto, desenvolveremos as seguintes atividades junto aos moradores do A.A.:

Atividade 1 - Criar (com auxílio dos dados científicos e do conhecimento popular dos moradores) e testar protocolo fenológico para as matrizes do Assentamento utilizadas na coleta de sementes com fins comerciais.

Atividade 2 - Treinar extensionistas para trabalhar em comunidades locais com o tema “Conservação de polinizadores”,

Atividade 3 - Conscientizar os participantes do projeto, através de oficinas, sobre as boas práticas para manutenção e conservação dos polinizadores nativos na área de produção/colheita dos frutos/sementes do cumbaru.

 

CITAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS

Candil, R. F. M., de Arruda, E. J., & Arakaki, A. H. 2007. O Cumbaru (Dipteryx alata Vog.), o desenvolvimento local e a sustentabilidade biológica no assentamento Andalúcia, Nioaque/MS. Interações 8: 75-80.

IPEF – Instituto de Pesquisas d Estudos Florestais. 2004. Preços de sementes de espécies florestais nativas e exóticas, Estado de São Paulo. Florestar Estatístico 16:72.

Oliveira, M. I., & Sigrist, M. R. 2008. Fenologia reprodutiva, polinização e reprodução de Dipteryx alata Vogel (Leguminosae-Papilionoideae) em Mato Grosso do Sul, Brasil. Revista Brasileira de Botânica 31: 195-207.

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Projetos Voltados Para o Ensino

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